segunda-feira, 5 de abril de 2010

Resposta à Carta de Anita XI

Querida Anita.

Li sua carta. Pensei em quando saí desta cidade. Você diria que eu te deixei? Que te abandonei? Não pedi que você me esperasse. Não sabia se queria que você me esperasse. Voltei. Que Caio voltou? De repente a descoberta que você partiu. Não me esperou. Então eu queria que você me esperasse? Foi esse o Caio que havia partido? Me senti abandonado? Não consigo identificar nada de significativo na viagem ao Norte que justifique essa inesperada desilusão. O que aconteceria se você estivesse aqui? Eu correria para o abraço?

Sou o desencontro de mim mesmo. E sou tão desencontrado que mesmo o me saber desencontrado não desbrava o caminho para o despertar de quem eu seria.

Dizem que há lugares em que se vê o encontro do céu com o mar, em que se vê o encontro de céu e terra e que chamam de horizonte. Nunca vi essa linha, ainda que imaginária. Olho para os lados e vejo montanhas, casas, árvores, mas jamais esse encontro. Nem mesmo consigo imaginá-lo.

Anita, não sei se é demais, mas peço que imagine o que é um homem sem horizontes. Esse homem sou eu. Não, não caminho a esmo. Isso não. Só não sigo mais tentando alcançar esse encontro imaginário. Será que perdi o rumo nessa minha viagem ao Norte? Não ria. Não é leviandade da minha parte. Não perdi o prumo.

Antes da minha partida, sentia que você de certa forma esperava que eu compreendesse o constrangimento que eu te causava ao falar de Maria Emília. Mas eu justificava minha atitude, dizendo para mim mesmo que, se você me amava, precisava me ouvir falar de Maria Emília.

Desculpas. Peço-as agora. Peço desculpas. Sei que por carta é mais fácil porque estamos distantes e eu não verei seu olhar e sua reação, seja ela qual for, a esse pedido. Mas por carta fica escrito, e as janelas da escrita não se abrem para os mesmos lugares que as janelas da voz.

Anita – esta é a terceira vez que te interpelo nesta carta –, como disse numa carta ao Élvio, frequentemente escrevo cartas sem saber para quem são, sem saber para que escrevo. Esta carta é para você, esteja você onde estiver e ela é para te pedir desculpas – não por ter sido incompetente para te amar –, é para te pedir desculpas pela tolice de tantas de minhas certezas.

Um abraço muito afetuoso.
Do SEU
Caio.

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