sexta-feira, 16 de abril de 2010

Carta antecipada



Querida Maria Claudia.

Call me Ishmael. É assim que começa.Você dá um nome. Como um demiurgo no domingo, você cria todas as coisas e, por princípio, principia por criar o criador. Foi assim que começou. Você deu um nome. A quem pertence este nome? A quem chama? A quem é chamado? Pode me chamar de Caio. É assim que começa. Você dá um nome. Você se dá um nome. Caio, Caio Marques. Marque esse nome. Quem escolheu esse nome? Marque, remarque. Começo a responder antes mesmo que você me envie sua carta.

Agora você vem me falar de separação? Como assim? Então antes havia vida em comum! Surpreendo-me com tal descoberta. Delicio-me. Agora que estamos afastados... E há correspondência... Você vem me falar – ou vem me pedir? – separação? Seria possível lembrar de como tudo começou? Não sou bom de memória. Não quero ser. Será que escrevo porque não sou bom de memória? Não escrevo para guardar memória, mas justo porque não guardo memória, dissemino.

O que eu deveria dizer agora? Que não posso aceitar? Que quando um não quer dois não brigam? Que nunca houve vida em comum e que você imaginou tudo? A vida em comum foi fruto da sua imaginação? Ou devo te dizer que, para o bem ou para o mal, havia e sempre haverá vida em comum? Começo a responder antes mesmo que você envie sua carta. Acho que tenho uma espécie de incontinência imaginária. Na verdade, você não vai me escrever sobre isso. De onde tirei isso tudo? A imaginação farta. Fardo da imaginação. Fado? Falta? Medo que você me diga que não quer mais saber disso, que a partir de agora, tudo vai ser diferente, cada um no seu canto.

Desculpe a brincadeira.

Talvez eu tenha estragado tudo. Não seria de se estranhar.

Como os nomes, a quem pertencem estas palavras?

Do seu,

Alberto

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