quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Querida Anita

Confesso, Anita.
Sua última carta me desarrumou. Algo me dizia que você desconfiava da minha traição. Confesso.
Tenho roubado incessantemente todas as cartas que você envia para Caio. Tenho me apropriado incessantemente do nome dele. Sem que ninguém soubesse, passei a escrever para você e para outras pessoas utilizando esse nome. Sentia que você dizia coisas para me testar, para ver se eu abandonava o jogo. Mas não pretendo abandonar o jogo. Me perturba sua insistência nesse amor. Sua última carta me alegrou. Caio não merece seu amor. Quantas cartas inicialmente você escreveu e às quais ele jamais respondeu? Ele permaneceria mudo, não fosse eu. Será que você sabe quem eu sou? Creio que não. Tenho meus motivos para crer nisso. Não tenho mais como abandonar esse nome. Eu também sou Caio Marques. E nenhum de nós é mais verdadeiro que o outro. Eu te traí. Eu ainda te traio., mesmo confessando minha traição costumeira. Ou antes, você acha que eu sou um traidor. Para mim, não te contar o que fiz não significa traição, significa que aquele não era o momento para você saber quem eu realmente sou. Por que você não comentou nada quando eu confessei, por meio de Caio, como se eu fosse Caio, que já tinha também namorado homens? Não sei se fiz isso apenas para destruir a imagem idealizada que você tinha dele. A traição pressupõe um pacto anterior e a quebra desse pacto. Eu não te traí. Nosso pacto, por mais déjà vu que isso seja, faz-se em cartas. E nossas cartas são mapas que desenhamos para traçarmos nossas vidas. Não me  risque das suas cartas. Te amo assim. Por escrito. Inteiramente seu,
Caio Marques.
PS: sobre o ipê te escrevo depois.