Sua pele anoiteceu. Meus olhos
enluarados percorrem a vastidão da noite. Deitado, aos soluços, você não sente
minha presença. Confuso, toma bem umas dez decisões diferentes e
contraditórias. Eu, imóvel, discorro. Você não me ouve. Olha na minha direção.
Aproximo-me. Repouso minha mão sobre sua pele, breu coalhado de estrelas. Você
pressente. Eu presente. Você presente. Do mergulho na noite rescende um perfume
de homem. Todo seu. O perfume. Eu. Todo seu. Você lê muitas dobras do meu ser.
Você me desdobra. Você se desdobra. Embrenhados na escuridão, nosso tato varia.
Se é você que se recosta no meu peito, se sou eu que me recosto no seu peito?
Se é meu órgão que está rijo, se é o seu que jorra de prazer? Quem sabe?
Reviro-me. Estamos inquietos. Nem
sombra de amanhecer. Deitado na minha cama, vejo seu vulto se aproximar.
Aguardo suas palavras. O poeta é você.
''Você lê muitas dobras do meu ser. Você me desdobra. Você se desdobra.'' Eu me desdobro, já não me desdobro, mas me dobro cuidadosamente em mim mesma e me guardo para aquele que virá. Um dia virá...
ResponderExcluirAh! Pedro reclama que tu, Caio, nunca respondeu sua carta. Está magoadíssimo!
ResponderExcluirDiga-lhe que responderei.
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