Querida Anita
Saudades. Guardei durante alguns dias comigo em minha bolsa minha máquina fotográfica. Sabia que dia desses flagraria a beleza amarela dessas árvores em meio ao azul do inverno. Essas árvores: os ipês. São para você.
Os momentos não são efêmeros. Não acredito na perda. Ingenuidade. Imaturidade talvez. Dois dias atrás, me recusei a brindar aos encontros e às despedidas. Brindei somente aos encontros.
Em que medida o ipê na foto que fiz é diferente do ipê que você viu meses atrás? O ipê está aqui em sua plenitude.
Te escrevo para dizer que acredito nos encontros. Talvez você esteja acompanhada daqueles olhos que te miraram tão intensamente. Às vezes me pergunto se erro por estar longe de você. E a pergunta sempre traz a resposta de que nosso encontro fulgurou como o ipê. Manter o encontro por mais tempo do que ele poderia suportar seria deixá-lo num estado vegetativo. E queremos, ambos, o fulgor. Um fulgor que não rima com paixão. Não nesse momento. E esse fulgor nos transporta para um tempo outro e um espaço outro.
A cada dia que passa, mais pessoas se acomodam e buscam o acúmulo: de bens, de valores, de afeto. Busco a intensidade, sobretudo no que ela tem de diverso da quantidade. E assim soa como estupidez, deixar de lado o que se tem de bom para buscar algo de ainda melhor.
Divago.
Um beijo carinhoso do sempre seu
Caio Marques
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