Ao seu lado. Talvez tenha sido casual. Há palavra mais imprescindível do que essa? Talvez, talvez. Como foi mesmo que eles me disseram? Ah, um deles estava ao volante, devia ser Caio. Ao seu lado, Virgílio. Parecia um retorno à Roma antiga: Caio e Virgílio. E Caio, sem saber, a bem da verdade, a quem dirigia suas palavras, e talvez (novamente o imprescindível) ainda não o saiba; e Caio, sem saber a quem dirigia suas palavras, sugeriu a Virgílio que se mantivesse naquela vibração. Aqueles dois... Não era justo que fosse do jeito que era, dizia Virgílio, ao seu lado. Quando você menos esperar, ele estará ao seu lado, dizia Caio. Sem saber que estava ao seu lado. Ou sabia. Daí a reviravolta. Suas palavras, as de Caio, falavam do que ele não sabia. Foi assim, quando Caio menos esperava. Foi assim, quando Caio mais desejava. Perdão pelo jogo banal: quando caiu em si. Quando para si brilhou o que mais desejava. Só aí apareceu ao seu lado, no banco de uma praça, quem, sem saber, Caio desejava. Também ao seu lado, uma fonte que, invocada por Virgílio, adquiriu vida e testemunhou o encontro dos dois rios. Ao largo passava a causa de tudo.
Num momento sem mágica, em que o melhor e o mais fácil seria a fidelidade ao curso da estória, ainda que por pouco tempo, aqueles dois inventaram um novo sentido, prepararam o leito e deram novo curso às águas que se formaram.
Quando mostrei estas palavras que agora redijo a uma leitora incauta, disse-me ela que soavam por demais enigmáticas. Ora, ora, de que me adianta a clareza das palavras? De que me adianta que transpareça o sentido que ardentemente tento criar? Para quem escrevo? Talvez para mim mesmo. Ou para Virgílio. Ou para aquele jovem adolescente de dezesseis anos que mal começa a vida amorosa e sente-se fortalecido porque ao descer a rua vê aqueles dois abraçados num beijo de amor. Eis que minhas palavras fluem como aquele beijo. Os amantes entregaram-se um ao outro e seu encontro significava mais do que puderam ver.
Dobro este papel. Reflito. Quem sabe hoje é um dia especial. Quem sabe? E aonde vão me levar essas palavras que brotam em mim incessantemente e que desdobram e recobrem a realidade? Levanto-me. Perambulo pela casa e tento recordar algo mais que me tenham dito. Bebo um gole de vinho. O vinho sabe a uma recordação. Não consigo alcançá-la. Suspeito que algumas de minhas lembranças tenham adquirido vida própria e estejam – talvez, talvez – ao lado do garoto de dezesseis anos, que não conheço, e que vagamente, mirando um horizonte incerto lembra do que vivi.
Alberto
Alberto... é linda e clara. É poética e rara.
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