Definitivamente
não sei ser quem sou. E me arrependo de ter dito definitivamente. E avalio que
não me arrependi de tê-lo dito. Talvez me desfaça dessa culpa tão constante e
apenas observe que não sinto necessidade de ser quem sou. Não é bem isso.
Não
sei me conjugar apenas no presente. Sou um serei inabordável. Não fui aquilo
que vivi. Conjugar-me é outro modo de estar desajuntado de mim. E a poesia nem
sempre é agradável. Dói.
Um
homem marcou indelevelmente a minha vida. Vou chamá-lo de Luizir. Éramos um
trio: Luizir, Jurema e eu. Jurema disse: “não sei como vocês nunca namoraram! Ele
te amava tanto, mas tinha medo do seu não”. E eu do dele. Mas ele não se
despediu de mim. Deixou várias cartas, nenhuma para mim. Corri. Meus longos
cabelos de cachos loiros tiveram medo. No canto de um quarto que não era só
meu, tive vontade de viver como se cada momento fosse o último. Nas noites de
insônia, quando o teto era meu confidente, concluía que tudo tinha sido como
devia ser. E prossegui: marcado por sua ausência, sabedor de que a felicidade
não está nas imediações do último instante nem está na certeza de que tudo está
em seu lugar. Felicidade não se conjuga. E lembro das canções que mamãe ouvia: “Vem
logo/Vem curar seu nego/Que chegou de porre/Lá da boemia”; “Canta, canta minha
gente/Deixa a tristeza pra lá/Canta forte, canta alto/Que a vida vai melhorar”;
“Eu vou me banhar de manjericão/Vou sacudir a poeira do corpo/Batendo com a
mão/E vou voltar/Lá pro meu congado”.
Interrompo
aqui esta carta, que talvez seja um fantasma da despedida que não li, e ainda
um eco das cartas enviadas por meu pai e que mamãe lia em voz alta quando
estávamos longe dele, ao norte.
Daquele
que não tem nome próprio,
todo
seu,
Caio